segunda-feira, 20 de junho de 2011

PARTE I - A família de Mariana Eufrásia da Silveira e a criação de Pelotas

AS ORIGENS

Ilha Faial – Arquipélago dos Açores – Portugal (atual)

A Ilha Faial é uma ilha vulcânica situada a oeste do arquipélago dos Açores, com excelente área portuária na sua extremidade sudeste, junto a vila HORTA.

A ilha foi ocupada há poucos séculos, servindo de apoio às grandes navegações do passado, como também aos aliados durante a Segunda Guerra Mundial.

À época da colonização do Brasil, a Coroa portuguesa utilizava o sistema de ORDENANÇAS para organizar os grupos de migrantes que se destinavam a ocupar as “novas terras”.

Às Ordenanças dos Casais competia a assistência aos muitos migrantes bem como a distribuição dos recursos a eles destinados, tais como as rações de alimentos e a designação de terras onde deveriam ser assentadas as famílias que chegavam.

Uma patente das ordenanças distinguia poucos homens em um mundo majoritariamente camponês.

Para cada patente do escalão das Ordenanças, deveria haver um número mínimo de famílias aos seus cuidados e sob seu mando.


Ainda nos Açores

Manuel de Souza Borges e Antônia Furtado de Mendonça batizaram seu filho, José Furtado de Mendonça em 11 janeiro 1666 em Horta (Matriz), ilha do Faial. Ele faleceu depois de 1704.

José casou-se com Engrácia da Silveira nascida em 1674 em Horta (Matriz), Faial. Ela faleceu em 5 julho 1704 em Horta (Matriz), ilha do Faial.

José e Engrácia tiveram os seguintes filhos
          Antônio Furtado de Mendonça nasceu em 1690 em Horta (Matriz), ilha do Faial. Ele faleceu em 3 junho 1760 em Rio Grande-RS.
           Antônia   nasceu em 1699 em Horta (Matriz), ilha do Faial.   Ela faleceu em 9 julho 1705 em Horta (Matriz), ilha do Faial, na tenra idade de 5 anos.
Antônio casou-se com Isabel da Silveira, filha do capitão Amaro Dutra de Andrade e Luzia da Silveira, em 7 junho 1723 em Castelo Branco, ilha do Faial. Isabel nasceu em 12 julho 1696 em Castelo Branco, ilha do Faial. Ela faleceu em 6 novembro 1754 em Rio Grande-RS.
Antonio e Isabel tiveram os seguintes filhos
Clara nasceu em 25 julho 1723 em Castelo Branco, ilha do Faial. Ela faleceu em 7 junho 1727 em Horta (Matriz), ilha do Faial, aos 4 anos de idade.
Francisco nasceu em 8 maio 1726 em Horta (Matriz), ilha do Faial e foi batizado em 12 maio 1726 em Horta (Matriz), ilha do Faial.
Antônia Maria (Maria Antônia) da Silveira nasceu em 27 novembro 1728 e faleceu em 1 maio 1767.
Ana Inácia da Silveira nasceu em 16 agosto 1730.
Mariana Eufrásia da Silveira nasceu em 1732.
Isabel Francisca da Silveira nasceu em 24 julho 1735 em Horta (Matriz), ilha do Faial e foi batizada em 30 julho 1735 em Horta (Matriz), ilha do Faial. Ela faleceu em 18 agosto 1822 em Pelotas-RS.
Joana Margarida da Silveira nasceu em 20 maio 1737 em Horta (Matriz), ilha do Faial. Ela faleceu em 1 agosto 1814 em Viamão-RS.
Antônio Furtado de Mendonça Filho nasceu em 24 fevereiro 1739 em Horta
Tomás José da Silveira nasceu em 30 outubro 1740 em Horta (Matriz), ilha do Faial.
 
Ainda nos Açores, ocorreram vários casamentos, à saber:

Ana Inácia da Silveira casou com Manuel Fernandes Vieira;
 Maria Antonia da Silveira casou com Mateus Inácio da Silveira;
 Mariana Eufrásia da Silveira casou com Francisco Pires Casado (1752);
 Isabel Francisca da Silveira casou com Manuel Bento da Rocha 
 Joana Margarida da Silveira casou com Antonio Moreira da Cruz.
 

A migração

 Por esta ocasião, meados do século XVIII, Portugal e Espanha estavam interessados em ampliar seus domínios na América. 
Muitos portugueses migravam para o Brasil na busca de oportunidades e os grupos de açorianos vieram para a região sul, buscando instalar-se na Colônia do Sacramento, às margens do rio da Prata, região que também era disputada pelos espanhóis. 
As muitas batalhas entre espanhóis e portugueses na região e, finalmente, a tomada de Colônia do Sacramento pelos espanhóis fez com que os portugueses se retirassem para a região de Rio Grande de São Pedro, onde, em decorrência, veio a se criar a atual cidade de Rio Grande. 
Para esta cidade continuaram a chegar os portugueses, principalmente açorianos, pois a coroa portuguesa estava empenhada em colonizar as terras ao sul do Brasil. 
Reunindo suas filhas, genros e outros agregados, Antônio Furtado de Mendonça recebeu, ainda nas Ilhas, a mercê de uma patente de Alferes da Ordenança dos Casais. 
Mesmo não sendo esta uma alta patente, lhe conferia distinção sobre muito dos demais migrantes, majoritariamente camponeses que foram atraídos pelo Edital de 1747, no qual terras, insumos e ajudas de custo foram prometidos a quem se engajasse no grupo posteriormente chamado de Casais de Sua Majestade. 
É assim que a família Antonio Furtado de Mendonça chega ao Brasil por volta de 1752. Além de seus filhos e genros, acompanham-nos, entre outros tantos, o irmão de Francisco Pires Casado, José Francisco da Silveira Casado que virá a desempenhar importante atuação junto ao grupo de casais e junto aos governantes da capitania. 
Isabel da Silveira falece em 1754 em Rio Grande. Antônio logo à seguir, em 1760. Para seu lugar na Ordenança, assume  José Francisco da Silveira Casado.

Na Europa, uma aliança entre França e Espanha dão combate à Inglatera, de quem Portugal era aliado e dependia de sua frota para ampliar o comércio marítimo. Essa guerra alcança as colônias e os espanhóis expandem seu território no Prata, conquistando o forte de Santa Tereza, hoje região do Uruguai. À seguir, cai o forte de São Miguel, no Chuí e, finalmente, a vila de Rio Grande em poder dos espanhóis, na data de 24/04/1763.

O Governador do Rio Grande do Sul, Elói Madureira, ao saber que os espanhóis já teriam tomado o forte de Santa Tereza,  retira-se de Rio Grande, instalando-se em Viamão, para onde transfere a sede do governo.

Os portugueses que estavam em Rio Grande, vindos da Colônia do Sacramento ou chegados dos Açores no intuito de colonizar o sul do Brasil, acompanham esse movimento, deixando a cidade de  Rio Grande juntamente com o governo, indo para Viamão ou para territórios que margeavam a lagoa dos Patos.

Assim, muitos portugueses chegaram ao “Rincão das Pelotas” como era designada a região onde hoje está situada a cidade de Pelotas, instalando-se  e criando as primeiras fazendas na região, onde plantavam trigo e laranjas. Entre esses portugueses, estavam as cinco filhas de Antonio e Isabel , estes há pouco falecidos, e, ainda, seu filho Francisco.

José Francisco da Silveira Casado, cunhado de Mariana Eufrásia, seguiu para Viamão acompanhando o Governador. Posteriormente conquistará o posto de Capitão-mor das Ordenanças, segundo posto em importância na província,  logo a seguir ao de Governador, posto esse que transferirá, posteriormente, a Bento Manuel da Rocha, marido de Isabel Francisca da Silveira.

Os espanhóis interrompem sua expansão em decorrência de acordo firmado entre França e Inglatera, porém não devolvem as terras conquistadas.

A ocupação de Rio Grande pelos espanhóis dura 13 anos, sendo a vila recuperada pelos portugueses somente em 1776 após várias batalhas.


O RINCÃO DAS PELOTAS


Após a Guerra Guaranítica (1754-1756) o coronel Tomás Luiz Osório, que havia sido ferido na guerra, recebeu por doação, segundo despacho de Gomes Freire de Andrade, comandante geral das capitanias do sul, em 1758, o RINCÃO, descrito: “extrema-se no Sangradouro da Mirim com o Arroio Pelotas até topar com o Arroio Correntes e deste à Lagoa dos  Patos no lugar Canguçu”.

Segundo a carta de sesmaria, “a região estava sendo explorada e conhecida a zona de suas planícies”.  Poucos anos mais tarde, porém, mudaria de donatário.

Envolvido em denúncias, o Coronel Tomás Luiz Osório, comandante do Regimento de Dragões do Rio Grande do Sul, foi enforcado em Lisboa. Em 1779, sua viúva e seus filhos venderam ao casal Manuel Bento da Rocha e Isabel Francisca da Silveira a primeira sesmaria de Pelotas, hoje distrito do Laranjal.

Manuel Bento da Rocha, então capitão-mor do Rio Grande do Sul, tinha mais de trinta léguas quadradas de campo quando adquiriu as cinco léguas do Rincão das Pelotas pela quantia de um conto e duzentos mil réis.

Sua mulher, D. Isabel Francisca da Silveira, depois conhecida como D. Isabel de Pelotas, fez erguer uma capelinha na enseada do Laranjal, elevando ao altar o orago de Nossa Senhora dos Prazeres que ilhéus haviam trazido dos Açores para que servisse de padroeira.

Na coxilha limitada pelo Canal de São Gonçalo e o Arroio Santa Bárbara, viria erguer-se a Freguesia de São Francisco de Paula, berço da futura cidade. Essas terras integravam uma estância que pertenceu, originariamente, ao tenente de dragões Manuel Carvalho de Souza.

 Por carta de doação, este militar recebeu sua sesmaria – chamada Monte Bonito – no ano de 1779, depois de pedir licença “para ocupar, povoar e cultivar tais terras”. Mal se viu proprietário, logo as vendeu, quando Mariana Eufrásia da Silveira, irmã de Isabel, se tornou uma das  proprietárias, fazendo doações na época da fundação da freguesia, dos terrenos onde hoje se erguem a Prefeitura e Biblioteca municipais. Entre outros bens que adquiriu, Mariana era dona de quase toda a atual cidade.

Outras terras foram doadas da mesma forma a outros militares, como prêmio por suas participações nas guerras contra os espanhóis, como é o caso da estância do Pavão, doada a Rafael Pinto Bandeira por sua participação na tomada de Rio Grande em 1763, só para citar.

Por essa ocasião, chega ao rincão das Pelotas, vindo do nordeste, o português José Pinto Martins, o que vem a ser de grande importância para a região.



AS CHARQUEADAS

José Pinto Martins era português nascido na freguesia de Meixomil, Paços de Ferreira, distrito do Porto. Faleceu solteiro em Pelotas, 18 de junho de 1827, com perto de oitenta anos, e o seu corpo foi sepultado na Capela da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, na vila de Rio Grande.
Tinha vivido no Ceará, onde exercia a profissão de fabricante de carne-seca, até 1777, quando motivado por uma grande seca mudou-se para a vila do Rio Grande. O Ceará era, até então, o único produtor de carne-seca e não conseguia suprir as necessidades de um sempre crescente consumo, segundo as exigências da introdução de escravos, em ondas avultadas, nas fazendas das capitanias do norte e do centro do país.
Encontrando, em Pelotas, as condições ideais de produção, fundou, em 1780,  uma pequena charqueada em parte dos terrenos de Manoel Carvalho de Souza, concedidos no ano anterior pelo governador da Capitania do Rio Grande, José Marcelino de Figueiredo,

Com o sucesso alcançado, logo outros lhe seguiram o exemplo e as charqueadas proliferaram na região, tornando-a  um grande polo produtivo e, consequentemente, rico.

As charqueadas produziam de setembro a março. No restante do ano, a força de trabalho era desviada para o trabalho nas olarias e nas fazendas.

Desta forma desenvolveu-se Pelotas, tornando-se a mais rica e adiantada cidade da Província.

Como forma de controle adminstrativo, a Coroa portuguesa criava Câmaras ultramarinas, contituídas dos chamados “homens bons” que eram pessoas das elites sócio-econômicas locais que seriam representantes para a integração a nível local e nacional.

Manuel Bento da Rocha, marido de Isabel Francisca da Silveira liderava o grupo com o qual estabeleceu um efetivo controle local e até regional, através dos laços de parentesco, mas também compartilhando interesses econômicos e políticos bastante aproximados.



A ESTRUTURA DA FAMÍLIA

Assim, Manuel foi eleito para a Câmara de Porto Alegre, a única da capitania do Rio Grande de São Pedro, através de pelouros em apenas duas ocasiões, nos anos de 1775 e 1781, como juiz ordinário. Sua atuação junto à instituição, entretanto, superou em muito essa limitação. Em primeiro lugar, porque foi também eleito como juiz ordinário nos anos de 1765 e 1771, dessa vez como juiz de barrete. Também ostentou patente de capitão das Ordenanças, mais tarde promovido a capitão-mor. Finalmente, e mais importante, é que através da construção de uma intrincada rede de relações Manuel esteve sempre próximo à administração da “coisa pública”.

Os outros homens com quem eram casadas as irmãs, também pertenciam a governança do Continente de São Pedro: Mateus Inácio da Silveira, Antônio Moreira da Cruz, Manuel Fernandes Vieira e Francisco Pires Casado. A este grupo junte-se José Francisco da Silveira Casado (irmão de Francisco Pires Casado) e Tomás José da Silveira (irmão das cinco esposas dos demais integrantes do bando). Juntos estes sete homens somavam, através da eleição por pelouros, um total de 18 mandatos na Câmara entre os anos de 1767 e 1808, sendo que José Francisco foi o indivíduo mais vezes eleito para a instituição na capitania do Rio Grande, com oito indicações.

Eles partilhavam mais do que laços familiares e assentos na Câmara: possuíam interesses em comum e uma longa história de reciprocidades. Manuel Bento da Rocha era sócio em uma fazenda junto a José Francisco, na qual criavam mulas, gado vacum e cavalar. Francisco Pires Casado era sócio de Bento da Rocha em outra fazenda, da qual era também parte interessada Antônio Moreira da Cruz. Este último arrematou o contrato dos dízimos (em triênio não especificado) em sociedade com Bento da Rocha, Manuel Fernandes Vieira e Mateus Inácio da Silveira. No triênio de 1775-1777, Manuel Fernandes Vieira e Manuel Bento da Rocha juntaram forças a Antônio Rodrigues Guimarães para arrematar o contrato de fornecimento de carne às tropas. Dessa forma, além de possuírem algum tipo de parentesco, eram também sócios em diversos tipos de negócios.

Assim como Bento da Rocha, os irmãos Francisco e José Francisco, também integraram a tropa de Ordenanças. Francisco foi capitão, mais tarde alçado a sargento-mor, por indicação do próprio Bento da Rocha. José Francisco foi alferes e mais tarde capitão. Outros membros ostentavam algum tipo de patente militar. Mateus Inácio era capitão e piloto de uma fragata de Sua Majestade. Manuel Fernandes Vieira era capitão de Mar e Guerra ad honorem e Antônio Moreira da Cruz era sargento exonerado.

Tais postos possibilitavam a intervenção dentro da comunidade, regulando o alistamento dos paisanos, a requisição de alimento para as tropas e o estabelecimento da ordem social.

A filha de Francisco Pires Casado e Mariana Eufrásia da Silveira, Ana Francisca,  casou com Vicente Ferreira Leitão, juiz ordinário em 1788 e filho de um dos mais ricos estancieiros do Rio Grande. O pai de Vicente, Antônio, também ocupara ofícios na Câmara e se aparentara com homens influentes na região: era sogro de José Alves Duarte, procurador no ano de 1787, e genro de Manuel Gonçalves Meireles, juiz ordinário em 1773. Manuel Gonçalves, por sua vez, era genro de Jerônimo de Ornellas, um dos primeiros povoadores da capitania e sesmeiro original da área que originou Porto Alegre.




Bibliografia

Pelotas – História e Cultura –José Antônio Mazza Leite – Caderno de História nº 56 – Algo Mais – Gráfica e Editora
História e Tradições da Cidade de Pelotas – Mário Osório Magalhães – 2ª edição – 1981 Gráfica da Universidade de Caxias do Sul
Pelotas Sua História e Sua Gente = Zênia de León – UFPEL Editora Universitária – 1996
Pelotas CASARÕES contam sua história – Zênia de León –1º e 2º volumes – Gráfica D.M. Hofstätter
http://www.lahes.ufjf.br/publicacoes/Coloquio1%20PDF/Martha%20Daisson%20Hameister.pdf

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